sexta-feira, 26 de novembro de 2010

DOMINGOS PINHO E O GERÊS























"Domingos Pinho passou a dividir a sua vida entre o Porto e a serra do Gerês e realizou muitas obras de outro teor, mas igualmente inspiradas na floresta, nos seus ritmos e nos seus esplendores discretos de luz. Um movimento expressionista de gesto amplo e vigoroso caracteriza o seu Gerês, onde penetra para o conhecer do interior, ao contrário de Artur Loureiro, que o observa a contida distância. Na sua obra, Domingos Pinho transporta para as telas a experiência do lugar, a solidez vertical das árvores que transfigura em estrutura linear, a densidade de troncos espessos que converte em matérias finamente tratadas, a textura da madeira que coabita com a dos papéis e tecidos do seu atelier. A paisagem é uma interpretação do natural, é do domínio da cultura intelectual, como o foram outrora as composições mitológicas e a pintura de história em cujos argumentos se envolvia a paixão humana. O tratamento contemporâneo da paisagem arrastou a concepção de que o género não lida com o inanimado mas constitui o exercício de um olhar atento. Estamos perante um pintor vindo da escola naturalista do século XIX (Artur Loureiro) e um pintor afirmado na segunda metade do século XX - um pinta olhando de frente para o lugar, o outro está dentro do lugar; o primeiro, pinta à distância da sua técnica representativa, o segundo, está dentro da pintura."

Castro, Laura (2007)-Paisagens; Edições Afrontamento 

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